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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Grand Théâtre.

O carro é dela. Mas eu guiava.
-Gostou do espectáculo? - perguntou ela.
-Até onde eu estava acordado, sim. - Menti
-Não sei como consegue durmir em uma peça tão linda, dava pra sentir o romance. - Eu senti asco.
-Faltou uma bebida. - Sempre faltava, ainda mais nesses momentos.
-Que merda! Você só pensa nisso, isso me enjoa. - Senti o nojo em sua voz. Isso é bom.
-É o mesmo que a bebida faz comigo.
-Sabe, as vezes nem sei porque estou com você. - Disse ela. Olhando pela janela do carro.
-Vai ver eu trepo bem. A porra da melhor chupada que você ja levou.
-Idiota! Você é mesmo um babaca. - Uma mistura de tristeza e amor.
-Caralho, quer saber, vai a puta queo pariu. Devia ter te deixado na bosta daquele teatro, de preferencia enterrada no jardim. - Eles tinham um belo jardim por lá, com certeza melhor que o lugar onde ela vai me enterrar.
Continuei guiando, ambos em silencio. Tirei um cigarro do meu bolso e acendi, fumar fica muito melhor quando se está dirigindo... dirigir é muito melhor se estou fumando.
-Talvez fosse melhor eu ir embora.
-Ir embora? - Ela perguntou, assustada.
-É. - Um longo trago, sinto a fumaça descer.
-Mas por que, meu amor? - Sentia a tristeza em sua voz, adoro esse som.
-Porra, você não me aguenta mais, é sempre isso, precisa de alguem quem combine com você. - Ela acredita que vou mesmo, bem, eu não iria por nada, ela me sustenta e eu estou muito bem assim. Sendo cuidado. Mas é bom falar que eu vou, ela sempre pede pra mim ficar.
-Não, não é assim, eu te amo. Eu só estou de cabeça quente, sabe como fico. Me perdoa. - As pessoas são tão espertas, pela que o amor faz delas idiotas.
-Eu ainda preciso pensar, não sei se me faz bem ficar com você. - Preciso de uma cerveja pra comemorar isso.
Silencio, mais uma vez. Ouço seu soluço, sei que ela chora. O Cheiro é inconfundivel. Paramos no sinal. Sinal vermelho, já é tarde, tudo vazio. Sem eu perceber, alguem se aproxima do vidro.
-Senhor, tem um trocado? - Sentia o tremor de sua voz, mas ainda não havia olhado em seus olhos.
-Não tenho. - E mesmo que tivesse eu não daria.
-Porra. Espera, eu sei que você tem, só preciso pra comprar comida.
Olhei pra ele, esperando manda-lo a merda, mas o que visualizei, mandou-me muito antes. Era o meu rosto, aquele era eu, igual, embriagado e mau-trapilho, algo que eu sempre fui, algo que sou. Só que na rua, pobre e sem uma mulher pra sustenta-lo.
-Vamos, entra ai, vamos pro bar, vai ser legal conversar comigo mesmo. - Era isso que eu devia ter dito, bem, não disse.
-Vai a merda seu desgraçado, já disse que não tenho um puto pra te dar, e mesmo se tivesse não daria. - É nessa parte que sobe um arrepio.
Endireitou as costas, deu a volta no carro e foi no outro vidro.
-Meu amor, desculpe incomodar, mas você tem algum trocado? Preciso de dinheiro pra comprar comida. - Ele(ou eu) a olha nos olhos, ela retribui.
-Claro. - Com o rosto ainda molhado ela abre a bolsa, estende a mão e entrega pra ele(ou pra mim) umas moedas.
Ele agradece e vai embora.
-Uma pena. - Disse ela. O sinal abre e eu saiu com o carro.
-O que? - Agora nada mais me surpreende.
-Um homem tão bonito e educado, morando na rua.
-Caralho, era só o que me faltava, o que você acha que sou, mulher? - A raiva ecoava em minha voz, Insulto.
-Só achei ele bonito e educado, só isso. - Desprezo, me mata com teu desprezo, e eu a mato com meu amor.
-Eu vou embora mesmo, sua vagabunda.- Ok, ok. Escolha um muro, vire o carro e faça-o colidir.
-Pode ir. - Sem palavras.

Chegamos, subimos o elevador, ela abre a porta e entra, vou a geladeira e pego uma cerveja. Não está gelada o suficiente pra tirar o vermelho de meu rosto, nada estaria gelado a esse ponto. Mas eu sei o que resolve isso.
-Aonde você vai? - pego as chaves e saiu pela porta.
-Dar uma volta. - Grito do corredor.
Desço as pressas pelas escadas, como se minha vida dependesse disso. Nem parece que sou fumante. Entro no carro e saiu. Acelero, estou caçando minha comida, estou caçando meu bem estar.
E fazendo o caminho inverso eu avisto o que procuro. Paro o carro e vou em sua direção, lá estou eu, parado, e eu mesmo, caminhando em minha direção.
Um ataque, dois ataques, agora ele está caido, eu continuo a bater, não vejo resistencia, e quando acabo, sinto minhas mãos socando o asfalto.
Entro no carro, tiro a camisa e a atiro pela janela. O Sangue ainda está em meu rosto.
Paro em um ponto de gasolina, entro na loja e uso o banheiro, lavo meu sangue. Me dirijo ao caixa. O caixa é grande e feio, com certeza está insatisfeito, eu tambem estava a 15 minutos atras.
-Um maço de cigarro, por favor? - Vejo as flores no balcão. - E uma dessas rosas, por favor.
-São 4 reais.
-Pegue 5, fica com o troco, e quer saber, mate alguem.
Volto pro apartamento. Entro e ela está mais linda do que nunca, que mulher fantastica, lhe dou a rosa e roubo um beijo, doce.
Ela me leva pra cama.
-Você é surpreendente, onde você foi? - Ela me pergunta estando pro cima de mim.
-Fui apenas relaxar um pouco. Tenho que parar de andar no caminho contrario ao carrosel de meus sonhos. - Ela sorri, e eu tambem.
Sempre achei que a odiava, mas quer saber? Não odeio ninguem mais do que odeio a mim mesmo. Talvez por fazer o que faço, por ser quem sou, não consiguiria assistir minha vida. E é muito bom socar a minha proprio cara. Contra o asfalto, com força.
-Te amo - Ela diz. Entre beijos e tesão.
-Tambem te amo - Se você me conhecesse, mulher. Odiaria até minhas malditas tripas. Assim como eu odeio.

3 comentários:

Anônimo disse...

Odiar a si mesmo parece ser comum hoje em dia, do jeito que o mundo anda. Por que só assim pra destruirmos o planeta conosco aqui.

Sei que foi meio aleatório o comentário, mas...

Rodriane DL disse...

vc sabe escrever diálogos. coisa rara hj em dia.
obrigada pela visita.
;)

Luara Quaresma disse...

Voce esta escrevendo cada vez melhor *-*