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sábado, 27 de dezembro de 2008

Dança dos tolos.

Um giro, dois giros... a maçaneta agora. Entro pela porta, tropeçante, sempre.
-Ou, me desculpe! - Esbarrei nela, uma cadeira. Não devia me desculpar.
Fome, sinto minhas entranhas se comendo, ou só o álcool me matando, novamente.
Abro os armários, nem um grão que me agrade. Mais uma cerveja, essa quente.
Recosto-me na janela, e bebo. Bebo mesmo. Um bom gole, me cai como uma pedra, uma dor.
A vista me parece tão melhor agora, a ideia de um corpo caindo, tudo se quebrando. Tomo mais um gole, dessa vez grande, inclino-me no parapeito, me preparo. É agora. Vomito, como doi, é aspero, essa merda ainda me mata. A garrafa cai, e se espatifa.

Recoponho, o pouco que há para recompor.

Que culpa. Mais uma vez eu estive onde não deveria estar.
Entro no quarto. É tão bom ver a silhueta dela, deitada, em paz. Linda. E eu por ai, visitando outros corpos, trocando caricias com vagabundas. Mas, isso não serve, o vagabundo, o sujo, sou eu.

-É você, amor? - ela me pergunta, ainda em sono.
-Quem mais seria?

Ela deita a cabeça e volta a durmir. Ela esperava por mais alguem? Talvez por alguem melhor. Eu sinto raiva, mas não a culpo. É só minha culpa. Culpado, por meus crimes e meus atos.
Tiro os sapatos, jogo-os em qualquer canto.
Deito ao lado dela. Eu deveria dormir no chão, como um rato. Seria bom, ser um rato, poder me esconder nos cantos. Que merda, ainda não me esconderia de meus pensamento.
Que ela não queira um abraço. Só essa noite. Caralho, não.

-Querido? - Ela chama.

Não escuto.

-Amor? -Novamente.

Me chame por desgraçado. Por favor, me ponha pra fora. Saiba o filho da puta que sou.

-Fala - Eu respondo.
-Te acordei?- Tão preocupada.
-Não. O que foi, porra?
-Só queria que você me abraça-se. - Sinto o carinho em sua voz. É bom.

Eu a pego em meus braços. Ela se vira de costas e poem o corpo contra o meu. Ponho minha mão em sua virilha. Trago-lhe ao meu corpo. Ela é fantástica. Perfeita.
Por que as mulheres fantásticas gostam de vermes?

-Te amo. - Ela me ama. É até engraçado. E triste.
-Também te amo.

Seria bom que fosse mentira. Pena que só reparo o quanto gosto dela quando o álcool me sobe a cabeça. Me afoga. Até lá, só finjo ser homem. Homem pra deitar em outros corpos, homem pra ser grosso. Ela me sustenta, cuida de mim.
Espero acordar com minhas malas lá fora, ouvindo que me odeia. Bobagem!
Aproveitemos uma ultima noite, então.
Pego o seu rosto. Beijo sua boca. Uma ultima dança. Um último prazer.

E pela manhã, eu não pensarei que a amo. Uma bela resaca, é só o que a verdade me dá. Mas a ela, nem isso. Continuarei a engana-lá. E vou me odiar, até as minhas malditas tripas. Ai partirei, e pobre dela, enganada.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Barfly!

Entrei. Já não abria mais as portas. Comprimentei a caveira na porta, ela riu pra mim. Já fazia tempo. Aquele mesmo bar, o cheiro característico dos mortos. Ficava ao final da rua, descendo a avenida, na terceira rua, aquela que era enfeitada pelas putas, até mesmo no natal.

Os mesmos de sempre preenchiam o espaço. Um bebâdo ao fundo, sem um braço, nunca entendi como ele o perdeu, e também não me interessava, a ele também não. Outros jogados, sem importância, assim como eu. Andei até o balcão, a mesma caveira atrás dele. sempre sorrindo e balançando. Me sentei ao lado de uma mulher. uma velha, com um vestido longo vermelho, ia até as canelas e cobria os braços totalmente, cabelos ruivos, tinha a pele enrugada, seca, as mãos tremulas, sua dentadura parecia solta. E seu perfume competia com o mal cheiro, apesar de cheirar igualmente mal.

-Boa noite!- Eu disse.
-Boa noite!- Seco e indiferente. Parecia perturbada por algo.
-Sou Artur.
-Betty.
A caveira me servirá um Whisky, 2 pedras de gelo. Como sempre. Tome um gole. E falei:
-Não aguento o fedor dos mortos desse lugar, me enoja.
-Os mortos não fedem, os vivos cheiram mal, são insuportaveis. - Sua dentadura balançava, era triste.
-Todos cheiram mal, talvez seja isso.
-Pode ser, mas já estive em lugares piores.
-Onde? - Perguntei.
-Em todos lugar, porra. Você deveria sentir o cheiro da peste. - A dentadura ia cair, tinha certeza.
-Que peste?
-A peste negra, que merda. Que tipo de estúpido você é? Na Europa, idiota. - Aquilo me ofenderá, quis estourar aquele rosto velho, mas não o fiz. Ao inves disso, virei o copo.
-Foi a mais de 500 anos atrás, sem essa besteira, engana outro, sua vadia!
-Você não acredita, filho da puta!? - Ela, alterada, me segurou pelos braços, apertava e tremia. Tive uma mistura de medo e raiva. Queria ir embora.
-Vai a merda, vou quebrar essa sua cara velha e flacida. - Não me soltava, e tinha uma força que não sabia de onde vinha.
-Olha isso, olha isso, caralho. - Levantou o vestido até a cintura. Ela não usava calcinha. Mas o que me chamou a atenção foram as manchas pretas pelas suas pernas. Eram assustadoras, precisava de mais um copo, como sempre.

Voltei ao balcão e me sentei. Ela se sentou novamente, ainda segurando um dos meus braços. fiz sinal para mais um copo, fui servido, dessa vez caiu um pouco para fora, foda-se. Tomei um longo gole, precisava daquilo.Betty acompanhou-me, largou meu braço. Tirei um cigarro do meu bolso, eles sempre amassavam, malditos cigarros. Botei um na boca. Betty veio com o isqueiro, dei uma tragada.
Ela se levantou, foi até o som velho, botou uma musica.
-Vamos dançar? - Falou bem próximo ao meu ouvido, aquilo me arrepiava. Eu ouvia a sua dentadura balançar e bater.
Levantei-me, ainda com o cigarro em mãos, segurei a sua e começamos a dançar. Davamos voltas, rodopios, me senti estranhamento exitado, apesar do cheiro insuportável.
-Gosto dessa musica.-Disse ela.
-Não é de todos mal, respondi.

Então ela me beijou, um beijo longo. Sentia nojo e tesão, mas gostava. Acompanhei sua lingua.
Afastamos nossas bocas. Ela sorriu pra mim, estava em paz, isso era bom, irrelevante, mas bom.
A musica acabou, nos sentamos. Mais bebida. Peguei mais um cigarro, ela me olhava nós fixo, aquilo me encomodava. Em bares, sempre acabava em briga.
Ela abaixou a cabeça, senti algo quente molhando minha calça. Olhei, ela cuspia sangue, ele fluia de sua boca. Até que era bonito.
-O que foi, porra? - Perguntei.
-Não é nada, eu estou bem. Não seja bicha!
Betty correu pro banheiro, pensei em ir limpar minha calça, mas que se foda. Esvaziei meu copo, logo em seguida o dela. Apaguei o cigarro. Esperei mais algum tempo. Ninguem saiu do banheiro.
Levantei-me e fui até lá. Não ouvia barulho, até me preocupei, não fazia isso nem quando via o meu sangue.
Entrei, andei o banheiro, era pequeno, não havia ninguem. Sem janelas, nada, nenhuma saida. Voltei ao balcão, mais um copo. A caveira me serviu, continuava sorrindo, mas agora era mais engraçado.

Embaixo do copo, um bilhete, Até a proxima, boas lembranças. Com amor, Betty.

Virei o copo, dessa vez, cairá na minha camisa. Levantei-me, a caveira abriu a porta, eu sai. Queria levar Betty pra casa, seria uma boa foda.
Subi a rua, uma mancha preta em meu braço. Seria uma breve recordação, dolorosa, mas tudo bem. Não seria a primeira mulher a me fazer isso. Deixar lembranças dolorosas.