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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Barfly!

Entrei. Já não abria mais as portas. Comprimentei a caveira na porta, ela riu pra mim. Já fazia tempo. Aquele mesmo bar, o cheiro característico dos mortos. Ficava ao final da rua, descendo a avenida, na terceira rua, aquela que era enfeitada pelas putas, até mesmo no natal.

Os mesmos de sempre preenchiam o espaço. Um bebâdo ao fundo, sem um braço, nunca entendi como ele o perdeu, e também não me interessava, a ele também não. Outros jogados, sem importância, assim como eu. Andei até o balcão, a mesma caveira atrás dele. sempre sorrindo e balançando. Me sentei ao lado de uma mulher. uma velha, com um vestido longo vermelho, ia até as canelas e cobria os braços totalmente, cabelos ruivos, tinha a pele enrugada, seca, as mãos tremulas, sua dentadura parecia solta. E seu perfume competia com o mal cheiro, apesar de cheirar igualmente mal.

-Boa noite!- Eu disse.
-Boa noite!- Seco e indiferente. Parecia perturbada por algo.
-Sou Artur.
-Betty.
A caveira me servirá um Whisky, 2 pedras de gelo. Como sempre. Tome um gole. E falei:
-Não aguento o fedor dos mortos desse lugar, me enoja.
-Os mortos não fedem, os vivos cheiram mal, são insuportaveis. - Sua dentadura balançava, era triste.
-Todos cheiram mal, talvez seja isso.
-Pode ser, mas já estive em lugares piores.
-Onde? - Perguntei.
-Em todos lugar, porra. Você deveria sentir o cheiro da peste. - A dentadura ia cair, tinha certeza.
-Que peste?
-A peste negra, que merda. Que tipo de estúpido você é? Na Europa, idiota. - Aquilo me ofenderá, quis estourar aquele rosto velho, mas não o fiz. Ao inves disso, virei o copo.
-Foi a mais de 500 anos atrás, sem essa besteira, engana outro, sua vadia!
-Você não acredita, filho da puta!? - Ela, alterada, me segurou pelos braços, apertava e tremia. Tive uma mistura de medo e raiva. Queria ir embora.
-Vai a merda, vou quebrar essa sua cara velha e flacida. - Não me soltava, e tinha uma força que não sabia de onde vinha.
-Olha isso, olha isso, caralho. - Levantou o vestido até a cintura. Ela não usava calcinha. Mas o que me chamou a atenção foram as manchas pretas pelas suas pernas. Eram assustadoras, precisava de mais um copo, como sempre.

Voltei ao balcão e me sentei. Ela se sentou novamente, ainda segurando um dos meus braços. fiz sinal para mais um copo, fui servido, dessa vez caiu um pouco para fora, foda-se. Tomei um longo gole, precisava daquilo.Betty acompanhou-me, largou meu braço. Tirei um cigarro do meu bolso, eles sempre amassavam, malditos cigarros. Botei um na boca. Betty veio com o isqueiro, dei uma tragada.
Ela se levantou, foi até o som velho, botou uma musica.
-Vamos dançar? - Falou bem próximo ao meu ouvido, aquilo me arrepiava. Eu ouvia a sua dentadura balançar e bater.
Levantei-me, ainda com o cigarro em mãos, segurei a sua e começamos a dançar. Davamos voltas, rodopios, me senti estranhamento exitado, apesar do cheiro insuportável.
-Gosto dessa musica.-Disse ela.
-Não é de todos mal, respondi.

Então ela me beijou, um beijo longo. Sentia nojo e tesão, mas gostava. Acompanhei sua lingua.
Afastamos nossas bocas. Ela sorriu pra mim, estava em paz, isso era bom, irrelevante, mas bom.
A musica acabou, nos sentamos. Mais bebida. Peguei mais um cigarro, ela me olhava nós fixo, aquilo me encomodava. Em bares, sempre acabava em briga.
Ela abaixou a cabeça, senti algo quente molhando minha calça. Olhei, ela cuspia sangue, ele fluia de sua boca. Até que era bonito.
-O que foi, porra? - Perguntei.
-Não é nada, eu estou bem. Não seja bicha!
Betty correu pro banheiro, pensei em ir limpar minha calça, mas que se foda. Esvaziei meu copo, logo em seguida o dela. Apaguei o cigarro. Esperei mais algum tempo. Ninguem saiu do banheiro.
Levantei-me e fui até lá. Não ouvia barulho, até me preocupei, não fazia isso nem quando via o meu sangue.
Entrei, andei o banheiro, era pequeno, não havia ninguem. Sem janelas, nada, nenhuma saida. Voltei ao balcão, mais um copo. A caveira me serviu, continuava sorrindo, mas agora era mais engraçado.

Embaixo do copo, um bilhete, Até a proxima, boas lembranças. Com amor, Betty.

Virei o copo, dessa vez, cairá na minha camisa. Levantei-me, a caveira abriu a porta, eu sai. Queria levar Betty pra casa, seria uma boa foda.
Subi a rua, uma mancha preta em meu braço. Seria uma breve recordação, dolorosa, mas tudo bem. Não seria a primeira mulher a me fazer isso. Deixar lembranças dolorosas.

2 comentários:

noelle falchi disse...

aff fe, que arrepio! me lembrou um pouco cenas de "o ilumidado". quando ele ta no bar ho hotel e depois aquela mulher velha, morta na banheira. me causou estranheza, mas é do caralho!


:2

Anônimo disse...

Oloko, show demais hem =D vo frequentar esse blog agoora uahua
bjoss